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“Gifts of love” – Os padrões relacionais precoces como parte daquilo que somos

  • Susana Vaz
  • 15 de mai. de 2019
  • 2 min de leitura

Na temática da última semana foram abordadas algumas dicas relativamente à comunicação familiar, a sua importância, bem como as implicações que pode ter a curto e a longo prazo, a nível inter e intrapessoal. Mas não só a comunicação por si, como também os próprios padrões relacionais nos moldam e se tornam parte integrante daquilo que somos.

Com especial ênfase para as relações precoces, nomeadamente com pais ou outros cuidadores, entram para a equação os padrões relacionais diretamente estabelecidos entre o indivíduo e o outro, mas também aqueles que lhes servem de modelo. Lorna Smith Benjamin, parte de seis pressupostos principais, para a exploração da sua perspectiva da psicopatologia. Entre eles, encontramos nomeadamente a visão dos sintomas psicopatológicos não como uma “lacuna” ou um “erro”, mas como um esforço de o indivíduo se adaptar. No fundo, cada comportamento mesmo que disfuncional, terá tido valor adaptativo perante um certo contexto que aumentou a sua probabilidade de ocorrer, e com ele existem estilos cognitivos congruentes, bem como um valor afectivo que o mantém.

Tendo em mente que cada um de nós é geneticamente único e idiossincrático, a autora propõe três possíveis princípios que ligam padrões precoces, aos padrões característicos de uma determinada perturbação mental. A título de exemplo, um indivíduo vindo de uma família cronicamente controladora poderá assumir uma posição complementar de submissão. Este controlo leva a submissão e esta submissão leva por sua vez a mais controlo. Por outro lado, a identificação do indivíduo com os seus cuidadores enquanto modelos poderá levar a um padrão, não complementar, mas semelhante. Indivíduos vindos de uma família controladora poderão igualmente desenvolver padrões de controlo face aos outros. O mesmo padrão poderá levar ainda à denominada introjecção. O indivíduo passa a tratar-se a si mesmo tal como os outros o trataram, desenvolvendo um auto-controlo excessivo. Nesta visão, a autora apresenta assim a sua perspectiva da psicopatologia como um “gift of love”.

Depois de tudo isto e enquanto pais e/ou modelos, podemos sentir que caminhamos constantemente num campo minado. Todo e qualquer padrão de interação tem o potencial de nos moldar a nós e ao outro, e de ficar tão intrínseco naquilo que somos, que poderá afectar a forma como vivemos todas as nossas relações presentes e futuras e até como nos tratamos a nós próprios. A boa notícia é que padrões precoces saudáveis potenciarão padrões igualmente saudáveis. Uma criança que se sinta amada saberá não só amar os outros como também amar-se a si própria. E mesmo os padrões disfuncionais aprendidos são sempre mutáveis. Aqui entra em campo a importância da psicoterapia. Desde a promoção de novos modelos e interacções, à desconstrução e aprendizagem de novos padrões interpessoais, cognitivos e afectivos. Tudo isto confere ao paciente ferramentas para uma maior consciência e diferenciação face aos padrões internalizados, atribuindo-lhe um papel activo na sua própria mudança.

 
 
 

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